quarta-feira, 29 de dezembro de 2010







2011
Ano Internacional das Florestas

foto: lubasi
Imagem área da floresta amazônica que possui a maior biodiversidade do planeta/Foto:lubasi
Elas cobrem 31% da área terrestre total do planeta, abrigam o lar de 300 milhões de pessoas em todo o mundo e têm responsabilidade direta quando o assunto é a garantia da sobrevivência de 1,6 bilhão de pessoas e de 80% da biodiversidade da Terra. É das florestas de quem estamos falando.
Depois de 2010 ter sido dedicado à biodiversidade, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2011, oficialmente, o Ano Internacional das Florestas, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a preservação para uma vida sustentável no planeta.
Sob o tema Florestas para o Povo, a iniciativa mundial inclui a promoção de ações que incentivem a conservação e a gestão sustentável de todos os tipos de floresta do planeta, além de mostrar à população mundial que a exploração das matas sem um manejo sustentável pode causar uma série de prejuízos, como a perda da biodiversidade, o agravamento das mudanças climáticas, migrações desordenadas para áreas urbanas e o crescimento da caça e do desmatamento ilegal.
Só em 2004, o comércio mundial de produtos florestais movimentou US$ 327 bilhões (algo em torno de R$ 588,8 bilhões), segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A exploração predatória e o desrespeito ao ciclo de vida natural das florestas têm como consequência a ameaça da sustentabilidade econômica, das relações sociais e da vida humana no planeta, pois elas são a fonte de água potável e alimentos.
Por outro lado, fornecem também matérias primas para indústrias essenciais como a farmacêutica e da construção civil, além de desempenhar um papel vital na manutenção da estabilidade do clima e do meio ambiente globais.
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Logomarca do Ano Interncional das Florestas 2011
Situação das florestas no Brasil
O Brasil abriga 60% dos aproximadamente 5,5 milhões de km² da área total da Floresta Amazônica, a maior do planeta. Dentro do Brasil, ela se estende por nove Estados: Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Acre, Amapá, Maranhão, Tocantins e parte do Mato Grosso, representando mais de 61 % do território nacional.
A mata também se estende por mais oito países: Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. A Amazônia é também a maior floresta úmida e detentora da maior biodiversidade.
Contudo, tamanha riqueza natural tem sido alvo de exploração predatória e ilegal, o que significa assim o ciclo natural da reprodução dos recursos, bem como a subsistência das comunidades indígenas que habitam a região. A madeira proveniente da floresta abastece setores vitais para a economia nacional, a exemplo da construção civil, carne bovina e soja.
O problema é que boa parte dessa matéria-prima é extraída ilegalmente. Um levantamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA) estimou, em 2008, que o volume de madeira ilegal da Amazônia que abastece o mercado pode chegar a 90% do total consumido no país. A indústria da construção civil, segundo o estudo, é a que mais se beneficia.
Intitulado Quem se beneficia com a destruição da Amazônia, um estudo realizado em 2008 por iniciativa do Fórum Amazônia Sustentável e do Movimento Nossa São Paulo (atualmente Rede Nossa São Paulo), mostrou que as populações urbanas são as que mais se beneficiam dos recursos extraídos da floresta.
No site oficial do Ano Internacional das Florestas (em inglês), o consumidor é convidado a divulgar ações que pretende promover em 2011 em defesa das florestas.
Fonte: Instituto Akatu, Ecodesenvolvimento e Onu

Tom Lowe ganhou o prêmio de melhor foto de astronomia de 2010. Não deixe, de forma alguma, de clicar na imagem vencedora “Blazing Bristlecone”. Também é um cineasta de mão cheia. Ele produz refrescos para nossos olhos urbanos. Abaixo, veja o ceú que as nossas próprias luzes apagam no filme “Learning to fly”.

O céu que nós não vemos

Timescapes Timelapse: Learning to Fly from Tom Lowe @ Timescapes on Vimeo.

Aquecimento Global


Veja o que já mudou e o que está mudando no planeta:

TEMPERATURA: Desde a Revolução Industrial, a temperatura da Terra já aumentou cerca de 0,7ºC. Se até o fim do século ultrapassarmos 2ºC, alguns efeitos climáticos serão irreversíveis.

ELEVAÇÃO DOS MARES: O nível do mar está subindo duas vezes mais depressa que o ritmo registrado no século passado.

DERRETIMENTO DAS GELEIRAS: Em agosto, uma ilha de gelo de mais de 284km2 se desprendeu da Groenlândia. Já o Oceano Ártico registrou, nos últimos 4 anos, as quatro maiores perdas de sua cobertura de gelo durante o verão no Hemisfério Norte.

DESASTRES NATURAIS: Neste ano a Rússia enfrentou a onda de calor mais intensa de toda a sua história, que foi acompanhada por intensos incêndios florestais. Já o Paquistão e a China registraram inundações devastadoras.

MORTES: Segundo a ONG OXFAM, 21 mil mortes foram causadas neste ano pelo clima.

EXTREMOS: No começo de 2010, fortes nevascas paralisaram os EUA e causaram precipitações recordes de neve na Rússia e na China. Depois disso, a temperatura começou a ferver. Este ano já está sendo considerado o mais quente da história ou pelo menos um dos três mais quentes, ao lado de 1998 e 2005.

CUSTOS: Os desastres naturais contabilizaram prejuízos de US$ 222 bilhões e m 2010.

Fonte: Jornal O Globo, dezembro de 2010.

COP 16 - Cancún - Pequenos avanços




A COP-16 terminou apenas com definições genéricas para o corte de emissões de gases de efeito estufa, não ficando claro como, quanto e quando. Ficaram estabelecidos compromissos vagos e sem valor legal. Porém, alguns pequenos avanços foram registrados. Abaixo está o resumo das principais conquistas:

• Kioto continua, ainda sem novos compromissos. Novas decisões sobre Pós-Kioto somente em 2011 na África.
• Acordo assinado: pela primeira vez os países da ONU reconhecem que os mecanismos adotados até agora não foram suficientes para estabilizar o clima e assinam um acordo formal sobre o tema.
• Criação do Fundo Verde que havia sido delineado em Copenhague: US$ 30 bilhões nos 3 primeiros anos, totalizando US$ 100 bilhões até 2020, sendo inicialmente gerido pelo Banco Mundial. Este fundo, que será financiado pelos países ricos, servirá para alavancar projetos de mitigação e adaptação em países em desenvolvimento.
• Confirmado que o limite máximo de aumento de temperatura não deverá ultrapassar 2ºC, sendo que já tivemos um aumento de 0,7/0,8ºC desde a Revolução Industrial.
• Criaram-se regras para o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação).
• Transferência de tecnologias de baixo carbono e ajuda de especialistas para o países mais pobres.
• EUA, China e todos os maiores emissores de gases de efeito estufa serão inspecionados. O objetivo é assegurar que os cortes sejam feitos. Porém, ainda é um acordo sem regras específicas.
• Uma revisão científica dos progressos do combate ao aquecimento global será feita em 5 anos.

Fonte: Jornal O Globo - dezembro de 2010.

A seguir, dois artigos que esclarecem melhor estas questões:

A farsa de Cancún

Voltei da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Cancún, convencido de que seus resultados foram medíocres. Na conferência permaneceu o impasse entre os países desenvolvidos, que queriam o fim do Protocolo de Kyoto, já que muitos não o estão cumprindo, e o conjunto dos países em desenvolvimento, destacando-se China e Índia pelo crescimento do consumo de combustíveis, embora muito baixo per capita.

Para o meu espanto, de um dia para o outro a conferência apareceu como um evento exitoso, de acordo com declarações publicadas na mídia internacional e nacional. Resolvi então verificar se algo importante tinha escapado do meu conhecimento, mas ao ler as resoluções finais mantive a mesma opinião: nada há a comemorar.

O verniz aplicado para dar à conferência a aparência de sucesso na 25ª hora deve-se ao fato de ter sido bloqueada a definição do 2º período de compromisso do Protocolo de Kyoto. Isso era tudo o que queriam os países mais ricos incluídos no Anexo I da Convenção de Mudanças Climáticas, de acordo com o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada, estabelecido na Rio 92.

Na reunião de Cancún, o Brasil e o Reino Unido foram incumbidos de fazer consultas aos representantes dos países sobre o novo período de compromisso do Protocolo de Kyoto. Ouvi por duas vezes da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que conduziu as consultas pessoalmente com apoio do Itamarati, uma avaliação com certo otimismo, embora alertando que o Japão ameaçava sair do Protocolo seguindo o mau exemplo dos Estados Unidos, que jamais o ratificou. O Canadá caminhava no mesmo sentido. Em entrevista, no fim do evento, a própria ministra deu uma nota medíocre à Conferência: 7,5.

Na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, no Palácio do Planalto, poucas semanas antes de Cancún, o presidente Lula declarou que no encontro com chefes de Estado do mundo inteiro na Conferência do Clima de 2010, em Copenhague, os países ricos queriam tão somente acabar com o compromisso de Kyoto. A intervenção de Lula anunciando as metas voluntárias do Brasil e cobrando ações dos países desenvolvidos contribuiu para abortar o enterro de Kyoto em Copenhague.

No México foram aprovadas medidas pontuais como um Fundo Verde, o financiamento pelos países desenvolvidos para mitigação e adaptação e compensações pela redução de desmatamento. Embora se reitere o limite de 2º C no aumento da temperatura global até o fim do século, não se estabeleceu como isso pode ser obtido, pois nenhuma meta foi definida. Ficou para ser deliberado na conferência da África do Sul, em 2011.

O fracasso de Cancún transformado em êxito parece um fenômeno psicossocial em que todos se convencem de que algo ocorreu sem que isso retrate a realidade dos fatos. Me fez lembrar uma peça de Eugene Ionesco, na qual um rinoceronte aparece em uma cidadezinha e, sem lógica alguma, todos vão adquirindo as feições de rinoceronte. Foi assim que muitos voltaram do México, como os rinocerontes de Ionesco, repetindo que a conferência foi um êxito. (Artigo Luiz Pinguelli Rosa - O Globo, dezembro de 2010)

Luiz Pinguelli Rosa é diretor da Coppe/UFRJ e secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Sucesso do fracasso

Ficou a impressão de que Copenhague foi um grande fiasco e Cancún, um inesperado sucesso. A verdade é mais complexa. As negociações do clima desafiam simplificações. As duas COPs foram complementares. Cancún consagrou o que foi desenhado em Copenhague. Na Dinamarca e no México, o mundo caminhou, mas não o bastante para tirá-lo da beira do desastre climático.
Em Cancún, o acordo que surgiu foi a formalização de pontos que haviam sido duramente negociados em Copenhague: num novo acordo do clima, países como os Estados Unidos, China, Índia e Brasil terão metas; será formado até 2020 um Fundo Verde para o qual os países se comprometem a mobilizar recursos de US$ 100 bilhões ao ano; os países concordam com a meta de dois graus centígrados como limite de aumento da temperatura média da Terra.
Os registros de especialistas aqui e no exterior mostram que houve diferenças de métodos de negociação entre as duas Conferências das Partes da Convenção da ONU sobre Clima. No ano passado, houve papel demais. Uma verdadeira guerra de documentos dominou o debate da COP-15, a partir do vazamento de um texto que foi negociado pela Dinamarca com alguns países. Depois, apareceram outros textos: da China, da Europa, dos países-ilha, enfim, cada grupo que se sentia excluído resolveu fazer sua própria versão do que seria o documento final. Isso alimentou um ambiente de suspeitas e radicalização.
O México aprendeu com os erros da Dinamarca, e a presidente da COP-16, a chanceler Patricia Espinosa, escolheu um formato leve, informal, sem papéis. Isso, segundo especialistas, reconstruiu a confiança entre os países, que havia sido rompida em Copenhague, mas ao mesmo tempo deixou a COP no ar até o final. Não se sabia se não haveria nada — já que nada estava escrito — ou se haveria algum avanço. Nas últimas horas é que o documento final foi redigido e chegou-se a um bem sucedido conjunto de acordos.
No final, tumultuado e dramático de Copenhague, o que havia obtido apoio foi apresentado a um plenário esvaziado e conflagrado. Os chefes de Estado tinham saído de fininho. O presidente da Conferência, primeiro-ministro dinamarquês, Lars Rasmussen, não teve pulso para administrar o veto de grupos minoritários. No final, ele apenas “tomou nota” do texto final.
Esse texto, do qual apenas se tomou nota em Copenhague, orientou a busca de consensos da bem sucedida direção mexicana da crise. Houve uma cena inesquecível para quem viu, em Copenhague, no tenso último dia de negociação. O presidente do México, Felipe Calderón, se distanciou de tudo e ficou olhando, como se fosse um mero espectador, debruçado sozinho no balcão do mezanino do Bella Center. Embaixo, a imprensa se agitava. Nas salas do mezanino, os chefes de Estado se desentendiam. Ele, distante de tudo, apenas mirava. Hoje, parece que naquele momento ele estava aprendendo com os erros da Dinamarca.
Os analistas afirmam que Calderón e Espinosa foram transparentes, trabalharam para que todos os países se sentissem consultados, e evitaram a ideia de que um acerto feito entre os grandes seria imposto aos países menores. Houve também um avanço produzido na prática da direção firme de Espinosa. Nas COPs, as decisões são tomadas por consenso. Isso permite que pequenas minorias — ou, às vezes, um único encrenqueiro — impeça um acordo do agrado da vasta maioria. Quando a Bolívia ficou solitariamente contra o acordo de Cancún, Espinosa tomou nota da divergência, mas fechou o acordo. Desta forma, ela criou uma interpretação nova de consenso, bem mais sensato do que a unanimidade praticamente impossível de se conseguir.
O momento talvez mais difícil de Cancún foi quando o Japão ameaçou abandonar o Protocolo de Kioto. As negociações nas COPs andam em duas trilhas, conhecidas por siglas. Aliás, negociadores do clima adoram siglas. A trilha AWG-KP discute um novo período de compromisso dos signatários do Protocolo de Kioto, porque o atual vai até 2012. A trilha AWG-LCA negocia um novo acordo de longo prazo do clima. O problema em relação a Kioto é que ele só estabelece metas para quem faz parte dele, e isso deixa de fora grandes poluidores como Estados Unidos, China, Índia e Brasil. Ele é parcial, mas é o único que está em vigor; o outro é amplo, mas ainda é um esboço. E está parado em alguns pontos: o acordo terá força de lei ou não? A China aceita que suas metas sejam verificadas internacionalmente? Haverá um fundo para os países em desenvolvimento? Quem administra o fundo?
Cancún conseguiu contornar a rebeldia do Japão e manteve Kioto ainda sem novos compromissos. Confirmou-se o Fundo Verde para financiar ações de adaptação e mitigação em países em desenvolvimento. Ele será gerido temporariamente pelo Banco Mundial. O mundo confirmou que dois graus é o limite máximo tolerável de aumento da temperatura média da Terra. O mecanismo financeiro de compensação por desmatamento evitado — o REDD — ficou mais bem definido.
O mais importante de Copenhague, que poucos se deram conta, é que até Poznam, na COP-14, Estados Unidos, China, Brasil e Índia não aceitavam ter metas. Na COP-15, os quatro aceitaram. Copenhague ficou conhecida como fracasso, mas nela o mundo atravessou uma fronteira da qual não pode mais recuar. Foi o que Cancún mostrou.
Os cientistas quando olham o cenário se afligem. A soma de todos os compromissos não leva o mundo ainda a um terreno firme, longe dos cenários de tragédias ambientais mais severas e mais frequentes, que a ciência prevê e todos tememos. (Artigo Miriam Leitão - O Globo, dezembro de 2010).