quinta-feira, 22 de julho de 2010
ESTADO DO MUNDO - 2010 - Transformando Culturas - do Consumismo à Sustentabilidade
Não basta aumentar a eficiência, produzindo e consumindo cada vez mais. Preços, tecnologia e Estado são a parte menor da história
É preciso muito mais que preços corretos, inovações tecnológicas e capacidade de fazer cumprir leis para que o uso dos recursos necessários à reprodução das sociedades humanas seja compatível com a manutenção dos serviços básicos que lhes são prestados pelos ecossistemas. Ainda que essenciais, esses três elementos (preços, tecnologias e Estado) pouco adiantarão se não fizerem parte de profunda mudança, que vá além de instituições e incentivos e atinja o cerne das motivações e do próprio sentido que as pessoas imprimem a suas vidas.
Ultrapassar o consumismo em direção a comportamentos sustentáveis exige transformações na própria cultura das sociedades contemporâneas.
É bem verdade que, nos últimos 30 anos, a chamada ecoeficiência ampliou-se de maneira nítida: elevaram-se não apenas a produtividade do trabalho, mas os rendimentos tanto da terra como do próprio uso das matérias-primas e da energia. Cada unidade de dólar ou de euro produzida hoje contém um terço menos de matérias-primas que há três décadas. Isso não seria alcançado sem políticas ambientais, mudanças no sistema de preços e novas tecnologias.
No entanto, nesse mesmo período, apesar do inegável progresso, aumentou em 50% o montante daquilo que se extrai da terra para produzir bens e serviços. Se cada indivíduo tivesse o padrão de consumo médio dos americanos, o planeta só teria lugar para um quinto dos que nele hoje vivem. Em outras palavras, não basta aumentar a eficiência, produzindo e consumindo cada vez mais.
Não é a primeira vez que o Worldwatch Institute dedica seu relatório anual, já na 26ª edição, à questão da relação entre consumo e sustentabilidade. A novidade, agora consiste em abordar o tema sob o ângulo da cultura. Três pontos merecem destaque neste livro que, numa linguagem acessível ao leitor não especializado, consegue traçar um panorama abrangente do consumismo, ou seja, do "padrão cultural que conduz as pessoas a achar significado, satisfação e reconhecimento fundamentalmente por meio do consumo de bens e serviços".
Em primeiro lugar, o consumismo nada tem a ver com a suposta soberania do consumidor ou com a ampliação de suas oportunidades e escolhas. A compulsão ao consumo não é o resultado espontâneo da natureza humana, em que mais seria sempre melhor, e sim uma construção social, cujos principais beneficiários podem ser claramente identificados. Há números expressivos.
Em 1983, a publicidade dirigida a crianças nos EUA atingia US$ 100 milhões. A cifra hoje vai a US$ 17 bilhões. Os gastos com publicidade crescem hoje cerca de 10% ao ano em países como a China e a Índia. O faturamento global com propaganda e marketing, em 2008, foi de quase US$ 650 bilhões. Nos EUA, crianças e jovens gastam mais tempo na frente da televisão do que em qualquer outra atividade, salvo o sono. 19% dos bebês americanos com menos de um ano têm um aparelho de televisão no quarto. Quase dois terços das escolas americanas recebem uma porcentagem da renda das máquinas de vender refrigerantes e guloseimas e um terço delas são financeiramente premiadas quando ultrapassam determinado nível de vendas.
Esses são apenas exemplos de um movimento mais amplo em que empresas, governos, mídia, escolas, religiões convergem, ainda que de forma não explicitamente coordenada, no sentido de estimular valores e comportamentos em que a posse de cada vez mais bens e serviços associa-se de forma quase direta à realização existencial das pessoas.
E daí? A visão crítica desse movimento não será uma expressão tradicionalista contra o próprio processo de modernização, que faz do indivíduo o epicentro da organização social e se apoia totalmente em sua autonomia? Com que autoridade alguém pode questionar a capacidade de os indivíduos independentes e soberanos fazerem as escolhas que mais lhes convêm? Não se esconde por trás dessa postura crítica uma visão autoritária da própria organização social?
O segundo aspecto interessante do livro do Worldwatch Institute é mostrar que o bem-estar dos indivíduos não guarda proporção direta com o aumento de sua renda e muito menos com a elevação de seu consumo. Nos EUA, as pesquisas em psicologia econômica mostram que o sentimento subjetivo de felicidade não se amplia desde 1975, apesar da espetacular elevação do PIB. Pior: as expressões materiais dos prejuízos do consumo excessivo vão-se tornando nítidas no fato de que, por exemplo, as formas severas de obesidade, que atingiam 15% dos americanos no início dos anos 1970 chegam hoje a um terço da população.
Além disso, em vez de o aumento da produtividade do trabalho (que dobrou, nos últimos 40 anos) traduzir-se em redução no tempo de trabalho dos indivíduos, maior espaço para lazer, cultura, vida familiar e comunitária, a jornada média de trabalho nos EUA aumentou de 1.700 horas em 1970 para 1.880 em 2006. Mais tempo de trabalho significa não apenas elevação do stress, mas também mais refeições feitas fora de casa e, sobretudo, o incentivo à ideia de que o sacrifício no trabalho será recompensado no consumo.
A terceira dimensão fundamental do trabalho do Worldwatch Institute refere-se ao processo de transição para a cultura da sustentabilidade. Embora difuso e descentralizado, ele converge para um conjunto de iniciativas em que o bem-estar dos indivíduos e a resiliência dos ecossistemas tornam-se finalidades explicitamente formuladas e não resultados da busca frenética e incessante por mais renda e mais consumo.
* Ricardo Abramovay ( www.abramovay.pro.br ) é professor titular do departamento de economia da FEA/USP, coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental, pesquisador do CNPq e da FAPESP e presidente do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu. Este artigo foi publicado originalmente no jornal Valor Econômico do dia 29 de junho de 2010.
Texto reproduzido do site do Instituto Akatu.
Qual o nível de sustentabilidade da população mundial?
É muito comum ouvir as pessoas perguntarem: 1) O mundo tem gente demais ou gente de menos? 2) Qual é o nível de sustentabilidade ambiental da população?
Segundo o Relatório Brundtland, também chamado “Nosso Futuro Comum” (de 1987), o Desenvolvimento Sustentável é aquele “que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Na definicão do EcoDebate: “Compreendemos desenvolvimento sustentável como sendo socialmente justo, economicamente inclusivo e ambientalmente responsável”. Portanto, para se atingir o desenvolvimento sustentável é preciso garantir os direitos humanos e a qualidade de vida da população presente e futura, adotando um padrão de consumo que seja ecologicamente viável.
Assim, várias respostas são possíveis para as perguntas acima, pois o planeta Terra tem capacidade de suporte de uma quantidade variável de habitantes, dependendo do grau de direitos humanos atingido e do padrão de consumo adotado. A Pegada Ecológica é uma metodologia útil para medir a quantidade de terra e água (em termos de hectares globais) que seria necessária para sustentar o consumo atual da população. A tabela 1 mostra os números da Pegada Ecológica para diferentes níveis de renda per capita da população mundial e qual seria a população que a Terra seria capaz de manter de maneira sustentável.
Os países de renda baixa (e geralmente com baixo grau de atendimento aos direitos humanos de sua população), possuiam em 2005 uma renda per capita (medida em poder de paridade de compra – ppp – de 2008) de $ 1.230 dólares internacionais e uma pegada ecológica de 1,0 hectare global (gha).
Com este padrão de consumo o Planeta teria a capacidade de sustentar 13,6 bilhões de pessoas, quase o dobro da população mundial atual. Isto quer dizer que a população da Terra poderia ser muito maior do que a atual se houver generalização do baixo consumo médio adotado nos países pobres do mundo. Ou seja, se toda a população mundial adotar o padrão de consumo médio de Angola (0,9 gha) ou Butão (1,0 gha) o Planeta poderia sustentar até 13,6 bilhões de habitantes. Neste caso, o mundo seria sustentável em termos geracionais, mas não seria necessariamente “socialmente justo e economicamente inclusivo”.
Os países de renda média, possuiam em 2005 uma renda per capita de $ 5.100 dólares internacionais e uma pegada ecológica de 2,2 hectares globais (gha). Com este padrão de consumo médio o Planeta teria a capacidade de sustentar 6,2 bilhões de habitantes, um pouco menos dos 6,8 bilhões atuais. Isto quer dizer que com o nível de consumo médio do mundo atual a população da Terra já é maior do que aquela que o Planeta tem condições de manter de maneira sustentável. Ou seja, se toda a população mundial adotar o padrão de consumo médio da África do Sul (2,1 gha) ou do Equador (2,2 gha) o Planeta já estaria em uma situação de insustentabilidade.
Os países de renda alta, possuiam em 2005 uma renda per capita de $ 35.690 dólares internacionais e uma pegada ecológica de 6,4 hectares globais (gha). Com este padrão de consumo médio o Planeta teria a capacidade de sustentar apenas 2,1 bilhões de habitantes. Isto quer dizer que se o padrão de consumo de países como Irlanda (6,3 gha) ou Canadá (7,1 gha) fossem generalizados a Terra teria de reduzir a população em mais de 4 bilhões de pessoas. Já no caso dos Estados Unidos (EUA) a pegada ecológica era de 9,4 gha e se o “American way of life” fosse adotado pelo resto do mundo a população teria mundial teria de ser no máximo 1,4 bilhão de habitantes, correspondente apenas à população da China atual.
A renda média da população mundial é de $ 9.460 dólares internacionais e possui uma pegada ecológica de 2,7 gha. Neste nível de renda e consumo a Terra só teria condições de sustentar 5,0 bilhões de habitantes. É claro que o consumo mais elevado encontra-se entre os países ricos e as parcelas ricas da população. Mas mesmo que, numa situação hipotética, haja uma distribuição igualitária da renda e uma maior inclusão social e econômica das parcelas pobres da população, com acesso aos bens e serviços médios atuais, a situação do nível de consumo mundial atual é insustentável.
Desta forma a humanidade está diante dos seguintes desafios: a) reduzir ou modificar o padrão de consumo atual; b) investir em mudanças tecnológicas que permitam utilizar fontes renováveis de energia, maior eficiência na produção, reciclagem, aproveitamento do lixo, redução do desperdício, etc. c) reduzir a população; d) todas as alternativas juntas.
No curto prazo, a única alternativa não viável é a redução da população, pois mesmo com o declínio das taxas de fecundidade o crescimento populacional vai continuar ocorrendo devido à inercia demográfica (crescimento devido a estrutura etária jovem) e deve atingir 9 bilhões no ano de 2050. Mesmo que as taxas de fecundidade caiam de maneira mais rápida, a população mundial deve chegar a no mínimo 8 bilhões na metade do atual século.
Então as alternativas imediatas para evitar o desastre ambiental são aquelas apresentadas nos dois primeiros pontos acima, isto é, a comunidade internacional precisa modificar substancialmente a sua forma e o seu padrão de produção e consumo, quer seja pela via do decrescimento da quantidade de bens e serviços produzidos ou pela via das mudanças tecnológicas que possibilite produzir a mesma quantidade com menos insumos materiais e com mais respeito ao ambiente.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Entra em vigor a Lei nº 5.502 referente ao uso de sacolas plásticas
Política Nacional de Resíduos Sólidos
quinta-feira, 15 de julho de 2010
• Unicamp dissemina valores do Consumo Consciente através de Trote da Cidadania - Há 12 anos, trote da Unicamp combina integração e diversão com práticas mais social e ambientalmente responsáveis. (Fonte: Instituto Akatu)