Nesta semana saiu o 1º Relatório sobre Mudanças Climáticas
no Brasil, elaborado por 345 cientistas brasileiros que compõem o Painel
Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). Dentre todos os estudos e previsões,
divulgaram que a temperatura média do país subirá entre 3 e 6º C até 2070, o
que irá provocar redução da produção agrícola, secas mais intensas no Nordeste,
maiores enchentes e tempestades no Sul e Sudeste, elevação do nível do mar,
alterando as regiões costeiras, savanização da Amazônia, perda de
biodiversidade e redução de geração de energia devido à diminuição da vazão dos
rios.
Precisamos deixar de ser imediatistas e pensar somente no nosso próprio
umbigo! O que estamos esperando para mudar? Muito provavelmente em 2070 não
estarei mais aqui, mas que planeta vou deixar para o meu filho, para os meus
netos? Quero que eles desfrutem da mesma natureza e da mesma Terra que desfruto
agora! Gostaria até que eles vivessem em um mundo melhor do que vivo neste
momento! Será que isso vai ser possível?
Acredito que sim, se agirmos AGORA! É preciso mudar hábitos e valores,
adquirir práticas sustentáveis! Deixarmos de ser consumistas! Parece que 2070 é
muito longe, mas não é! Para que até o fim do século tudo não esteja pior,
faz-se urgente a ação neste momento! Deixarmos de ser egoístas e pensarmos mais
no "ser" do que no "ter"! Cobrar de quem elegemos que
propiciem políticas públicas que priorizem a adaptação e a mitigação às
mudanças climáticas, além de programas de qualidade em educação ambiental!
A palavra da ordem é AGORA! Vamos nos mexer!
Jackie Gaia
Abaixo, seguem dois artigos muito importantes sobre o assunto, do jornalista Agostinho Vieira e de Marina Silva.
Tem sido cada vez mais difícil emitir uma opinião sobre qualquer assunto
neste país. Antes de terminar uma frase alguém já te colocou numa caixinha, num
escaninho, acompanhado de um rótulo: petista, tucano, vendido, radical,
inocente, maluco. A lista é enorme e depende do interlocutor. Sem falar nos
casos em que não é preciso abrir a boca. Como no velho Maracanã, algumas cadeiras
ou ideias seriam cativas.
Vivemos um Fla x Flu diário, eterno e entediante. Só que sem a graça do
futebol. Palavras como ouvir, refletir, argumentar, ponderar, ouvir novamente
e, principalmente, pensar, teriam sido banidas definitivamente do dicionário. Não
há nada de novo. Tudo já teria sido dito e pensado. Portanto, basta jogar o
indivíduo num dos muitos sacos de gato disponíveis. Uma mistura de preguiça com
burrice.
Um ambiente assim já seria lamentável em qualquer época da história e em
qualquer parte do planeta. Mas ele se torna especialmente perigoso diante dos
desafios que estamos enfrentando e dos que nos aguardam nos próximos anos. Na
segunda-feira, 345 cientistas brasileiros, membros do Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas (PBMC), divulgaram um relatório mostrando que a temperatura
média do país subirá entre 3°C e 6°C até 2100. Teremos menos chuvas na
Amazônia, mais secas no Nordeste e mais inundações e desabamentos no Sul e no
Sudeste.
É importante ressaltar que não estamos falando de 345 loucos que se
reuniram numa praia paradisíaca para fumar um baseado e prever o fim do mundo
olhando para uma bola de cristal. Trata-se da nata da produção científica
nacional na área, que se dispôs a reunir num documento todo o conhecimento
acumulado em anos de pesquisa. Nomes reconhecidos internacionalmente, inclusive
com o prêmio Nobel.
Apesar disso, o destaque dado para este estudo em todos os veículos e
nas redes sociais foi mínimo. Na verdade, ínfimo, se comparado com o que daremos
para a próxima tragédia ambiental e os seus mortos. Seguimos nos preocupando
com o eu, o aqui e o agora. Dando destaque para a política com p minúsculo que
vemos todos os dias. Vai ficar mais quente? Em 2100? Isso é longe demais. Tenho
outros problemas.
Só que não é bem assim. O trabalho dos pesquisadores mostra que teremos
mudanças na vazão dos rios, declínio da biodiversidade e aumento do nível do
mar em cidades costeiras, como o Rio, por exemplo. Perda do potencial de pesca
do país, acidificação dos oceanos e aumento da migração da população rural para
as cidades. Efeitos que afetam a todos, que já se manifestam hoje e tendem a se
intensificar ao longo do tempo. Somos vulneráveis, mas podemos mudar esse
cenário.
E a hora é agora. Não temos tempo a perder. Não importa se teremos
Dilmas, Marinas, Aécios, Josés, Joaquins ou Eduardos no próximo governo. A
realidade nos obriga a trabalharmos juntos. Pelo menos desta vez, precisamos
agir como um grupo e não como um bando. Se não dá para concordar em tudo, precisamos
buscar o consenso em coisas básicas. O país precisa de políticas de Estado.
Políticas com P maiúsculo, que estejam acima das cores partidárias.
Não consigo imaginar um partido, da extrema direita à esquerda radical,
que seja contra a universalização do saneamento básico. Continuamos coletando e
tratando menos de 50% do esgoto gerado. Que tal uma meta mais ousada e recursos
para acabar com essa vergonha em dez anos? Se a ciência diz que teremos menos
chuvas na Amazônia nos próximos anos, é preciso rediscutir a política
energética e as hidrelétricas na região. A volta das usinas a carvão não
resolve o problema, agrava.
A redução do desmatamento nos últimos anos foi um passo importante.
Graças a ela diminuímos as nossas emissões de gases de efeito estufa em 35%.
Tudo indica que vamos bater a meta assumida em Copenhague sem grandes
problemas. No entanto, o estudo divulgado agora mostra que depois de 2020 a
tendência é de crescimento. A agropecuária e a energia são as maiores fontes de
emissão de carbono e precisam mudar as suas lógicas de produção.
Não dá mais para aceitar a baixa produtividade da pecuária, com menos de
uma cabeça de gado por hectare. Nem as nossas ruas lotadas de carros que não
andam. Investir em mobilidade urbana e em energia limpa não é mais uma boa
ideia, mas uma necessidade. Ainda dá tempo de minimizar os efeitos das mudanças
climáticas, mas é irresponsável achar que nada vai acontecer. Os cientistas
estão fazendo a parte deles, precisamos fazer a nossa. É uma questão de ética e
de solidariedade.
(Por: Agostinho Vieira, fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/ecoverde/)
Logo ali
Nesta semana, foi divulgado o relatório do Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas, que detalha os estudos mundiais sobre o clima nas especificidades
do nosso país e seus variados biomas. Ressalta, à primeira vista, a qualidade
da ciência que produzimos e a contribuição de nossos cientistas à visão do
futuro e às decisões estratégicas que a nação brasileira precisa tomar.
Essa contribuição é desprezada pelo sistema político, cujo ceticismo
interesseiro esconde o prejuízo futuro sob o lucro imediato. Diante de uma
previsão como a de "aumento de 6 graus na temperatura até 2070, com queda
na produção agrícola", há quem ache 2070 muito longe, que espere alguma
solução mágica ou até que desconfie de uma conspiração estrangeira no estudo.
É interessante ver alguns políticos fazendo cálculos eleitorais para
2022, mas incapazes de ver as perdas econômicas na agricultura, causadas por
geadas e secas, de R$ 7 bilhões anuais até 2020. Ainda nos próximos sete anos,
o plantio de soja pode perder 20% de produtividade. Se esse prazo curto, no
horizonte político mais estreito, não sensibiliza quem governa o país, pouco
adianta alertar que, até 2050, a área plantada de arroz pode retroceder 7,5%, a
de milho, 16%, e a geração de energia ser ameaçada pela redução de até 20% na
vazão dos rios.
Os alertas não são recentes. Em 2006, quando estava no Ministério do
Meio Ambiente, publicamos o relatório "Mudanças Climáticas Globais",
que já apontava o agravamento da seca no Nordeste e das inundações no Sul. A
Embrapa e a Unicamp publicaram, em 2008, o relatório "Aquecimento Global e
a Nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil", com cenários críticos
para as principais culturas. Sabíamos que os avisos da ciência não podiam ser
ignorados e promovemos as ações de redução das emissões de CO que estavam ao
nosso alcance. Mobilizamos o governo e a sociedade para reduzir o desmatamento
da Amazônia em quase 80%.
Agora, os cientistas dizem que o Brasil cumpriu as metas de redução das
emissões apenas com o controle do desmatamento, mas alertam que isso não basta:
neste ano, o desmatamento na Amazônia pode subir 35%.
Isso ocorre porque a pauta do governo e de setores atrasados do
agronegócio fixou-se em desmontar a legislação ambiental e anistiar quem
desmatou, como se as florestas e rios atravancassem o país e a agricultura.
Agora, voltam-se contra os índios e suas terras, para reduzi-las e abri-las à
exploração mineral e agropecuária.
A agenda estratégica do Brasil é outra. Ela é voltada para um futuro
sustentável, pois apoia-se no trabalho dos cientistas, nos sonhos dos jovens,
homens e mulheres de boa vontade, dialogando com a geração que viverá o ano de
2070, que, afinal, está logo ali.
(Por: Marina Silva, fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/128783-logo-ali.shtml)
A seguir, algumas reportagens sobre o assunto:
• O que diz o 1º Relatório sobre Mudanças Climáticas no Brasil (National Geographic, set/13)
• Agricultura nacional pode sofrer prejuízo anual de R$ 7 bilhões com mudanças climáticas (EcoD, set/13)
• Mudanças climáticas devem reduzir áreas de cultivo no Brasil (Envolverde, set/13)
• Emissão de gás carbônico no setor de energia dobra em cinco anos (Agência Brasil, set/13)
• G20 assina acordo para reduzir gases de efeito estufa, fundamental para combater as mudanças climáticas (ONUBR, set/13)
• Alertas de desmatamento e degradação da Floresta Amazônica aumentam 35% (Envolverde, set/13)
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