"Fé é dar o primeiro passo mesmo que você não veja a escada inteira" (Martin Luther King)
As postagens feitas hoje relatam dois assuntos que creio serem os mais importantes para a discussão da crise ambiental e das nossas referências de valores – questões importantíssimas que precisamos refletir e debater com urgência. Ao meu ver, o consumismo é a grande causa das mazelas que enfrentamos, desde a desigualdade social até as mudanças climáticas. O aquecimento global, a perda de biodiversidade, o desmatamento, a pobreza, são consequências da ganância, do egoísmo, do orgulho e do excesso de consumo.
Desta forma, além das matérias que selecionei para colocar aqui no blog sobre estes assuntos, achei que deveria postar um texto maravilhoso do jornalista cubano Marcus Eduardo de Oliveira que, por sua vez, trata do mais recente livro lançado por Christovam Buarque – "Reaja" – que é um convite à ação. Do mesmo modo, dou ênfase a um artigo emocionante do querido Leonardo Boff, intitulado: "Ou mudamos ou morremos".
Segue também um vídeo que fala sobre AÇÃO, da mesma autora de "A história das coisas", denominado "A história da mudança".
Meu desejo é que tudo isso possa tocar corações e mentes e que gere sensibilização, conscientização, mudança e AÇÃO.
Jackie Gaia
[Reaja] Um convite à ação
por Marcus Eduardo de Oliveira*
Para Cristovam Buarque, nosso mais proeminente semeador de utopias.
Profícua, mobilizadora e instigante a leitura do novo livro de Cristovam Buarque (“Reaja”, ed. Garamond, 54 páginas). Um pequeno livro –no formato– mas “grande” em conteúdo, com uma capacidade ímpar de nos chamar à mobilização em torno de um único movimento: reação.
O livro é um “convite” para reagirmos frente aos desmandos políticos e institucionais, frente às desigualdades socioeconômicas, às incoerências do setor público, à brutal agressão ambiental patrocinada pela sanha consumista alimentada por produções excessivas, à corrupção em diferentes níveis, a falta de moral que permeia algumas Instituições do “alto poder” nacional.
Com mais esse livro, Cristovam Buarque promove, na verdade, um panfleto-manifesto. Uma espécie de “grito de alerta”, um convite/chamado à ação para a reação, para que não nos acomodemos; para que não deixemos escapar a arte de sonhar, ainda que sejam sonhos impossíveis, meras quimeras ou tópicas utopias, mas que, nem por isso, deixam de ser possível realizá-las, dentre essas, a de transformar o mundo.
A cada página, uma reflexão nos chamando a tomar consciência. A cada tópico, um especial pedido para que lutemos bravamente na construção de um mundo melhor, de um meio ambiente que não sofra com o descaso da economia produtivo-expansiva e possa “respirar” aliviado, sem a pressão exercida por uma economia do crescimento que destrói para se fazer grande e pujante.
Um convite, um chamado, uma conclamação para que todos lutem, por exemplo, “contra uma civilização que produz quase setenta trilhões de dólares por ano, dez mil por pessoa”, mas que, em muitos casos fecha os olhos para as “crianças com fome, sem roupas, brinquedos, higiene” (p. 9).
O texto brada para que não deixemos de protestar frente aos desmandos de uma estrutura econômica que destrói a natureza em nome do progresso, em nome de fazer a economia crescer para assim fazer sorrir o mercado de consumo, de uma economia que pouco se importa se, para produzir mais mercadorias, rios são poluídos, o ar é contaminado, os recursos hídricos são escasseados, a biodiversidade é ultrajada.
Por isso o autor de “Reaja” pede para que não nos acostumemos “com o fato de que, para acender a luz de sua casa, foi preciso destruir florestas, expulsar índios de seus habitats, exterminar espécies biológicas e até biomas inteiros” (p. 10)
O texto de Buarque ecoa como um grito de ordem para que reajamos às imposições vindas do mercado, consubstanciadas numa economia brutalmente desigual que separa e não inclui, de uma macroeconomia da injustiça social, de uma estrutura política perversa e tacanha que, em pleno século XXI, ainda privilegia quem tem os bolsos e as contas bancárias mais cheias de cédulas ou influência e apadrinhamentos múltiplos, que apenas nos vê (só em épocas de campanha eleitoral) como “eleitores”, não como cidadãos.
“Reaja à propaganda que amplia suas necessidades e manipula seus gostos e gastos” (p.24). Eis aqui um grito contra esse “deus mercado” que nos quer “converter” à “religião do consumo fácil”, conspícuo (como gostam de dizer os economistas), regado de futilidades (como observam e nos alertam os filósofos)
“Reaja contra a economia que considera produtos as armas que matam e comemora o aumento da riqueza medido pelo uso delas” (p. 27). Eis aqui a estupidez de um indicador chamado PIB que contabiliza de bom grado as mortes, os terremotos, os desastres automobilísticos, a poluição dos rios, pois tudo isso faz a economia crescer, faz o PIB disparar e ajuda a eleger (dá votos) muita gente.
Ao nos chamar à reação contra todos esses desmandos, Buarque deixa expresso nas páginas de “Reaja” o sentimento de que a vida só tem sentido quando passamos por ela com o intuito de transformar algo, de não nos acomodarmos à letargia, mas, antes, de colocarmos mãos na massa para moldarmos um novo mundo, um mundo diferente, mais fraterno, pautado numa nova maneira de construir às relações que enlaçam o nosso dia a dia numa perspectiva de melhoria da qualidade de vida.
Esse “reaja” propagado por Buarque vem nos alertar para o “não se acostume”, evidenciando que uma eficaz saída para superarmos os mais diferentes desequilíbrios passa pela mobiliz(ação), pela re(ação) e pela agiliz(ação).
“Não se acostume com o conforto pessoal que vem da concentração de renda e com o custo de destruição ambiental. Lembre que hoje não nos acostumaríamos com os privilégios da nobreza ou com a exploração de escravos. E naquele tempo todos estavam acostumados. Não se acostume agora com o luxo dos ricos ao lado da miséria dos pobres. Escravocratas são todos os que vivem indiferentes à pobreza que os rodeia”. (p.36)
Esse “Reaja” se enquadra naquela linha de análise defendida por Leonardo Boff: “Ideias boas podemos até tê-las aos montes, mas o que de fato move o mundo são as nossas ações”.
Dito ainda de outra forma por L. Boff, esse “Reaja” de Cristovam Buarque pode ser assim resumido: “O que convence as pessoas não são as prédicas, mas as práticas. As ideias podem iluminar. Mas são os exemplos que atraem e nos põem em marcha”.
Para sorte de todos nós, a história está repleta de exemplos que corroboram com o texto apresentado por Cristovam Buarque. De nossa parte, que não deixemos “escapar” mais essa oportunidade.
Fonte: Envolverde (out/13)
Para Cristovam Buarque, nosso mais proeminente semeador de utopias.
Profícua, mobilizadora e instigante a leitura do novo livro de Cristovam Buarque (“Reaja”, ed. Garamond, 54 páginas). Um pequeno livro –no formato– mas “grande” em conteúdo, com uma capacidade ímpar de nos chamar à mobilização em torno de um único movimento: reação.
O livro é um “convite” para reagirmos frente aos desmandos políticos e institucionais, frente às desigualdades socioeconômicas, às incoerências do setor público, à brutal agressão ambiental patrocinada pela sanha consumista alimentada por produções excessivas, à corrupção em diferentes níveis, a falta de moral que permeia algumas Instituições do “alto poder” nacional.
Com mais esse livro, Cristovam Buarque promove, na verdade, um panfleto-manifesto. Uma espécie de “grito de alerta”, um convite/chamado à ação para a reação, para que não nos acomodemos; para que não deixemos escapar a arte de sonhar, ainda que sejam sonhos impossíveis, meras quimeras ou tópicas utopias, mas que, nem por isso, deixam de ser possível realizá-las, dentre essas, a de transformar o mundo.
A cada página, uma reflexão nos chamando a tomar consciência. A cada tópico, um especial pedido para que lutemos bravamente na construção de um mundo melhor, de um meio ambiente que não sofra com o descaso da economia produtivo-expansiva e possa “respirar” aliviado, sem a pressão exercida por uma economia do crescimento que destrói para se fazer grande e pujante.
Um convite, um chamado, uma conclamação para que todos lutem, por exemplo, “contra uma civilização que produz quase setenta trilhões de dólares por ano, dez mil por pessoa”, mas que, em muitos casos fecha os olhos para as “crianças com fome, sem roupas, brinquedos, higiene” (p. 9).
O texto brada para que não deixemos de protestar frente aos desmandos de uma estrutura econômica que destrói a natureza em nome do progresso, em nome de fazer a economia crescer para assim fazer sorrir o mercado de consumo, de uma economia que pouco se importa se, para produzir mais mercadorias, rios são poluídos, o ar é contaminado, os recursos hídricos são escasseados, a biodiversidade é ultrajada.
Por isso o autor de “Reaja” pede para que não nos acostumemos “com o fato de que, para acender a luz de sua casa, foi preciso destruir florestas, expulsar índios de seus habitats, exterminar espécies biológicas e até biomas inteiros” (p. 10)
O texto de Buarque ecoa como um grito de ordem para que reajamos às imposições vindas do mercado, consubstanciadas numa economia brutalmente desigual que separa e não inclui, de uma macroeconomia da injustiça social, de uma estrutura política perversa e tacanha que, em pleno século XXI, ainda privilegia quem tem os bolsos e as contas bancárias mais cheias de cédulas ou influência e apadrinhamentos múltiplos, que apenas nos vê (só em épocas de campanha eleitoral) como “eleitores”, não como cidadãos.
“Reaja à propaganda que amplia suas necessidades e manipula seus gostos e gastos” (p.24). Eis aqui um grito contra esse “deus mercado” que nos quer “converter” à “religião do consumo fácil”, conspícuo (como gostam de dizer os economistas), regado de futilidades (como observam e nos alertam os filósofos)
“Reaja contra a economia que considera produtos as armas que matam e comemora o aumento da riqueza medido pelo uso delas” (p. 27). Eis aqui a estupidez de um indicador chamado PIB que contabiliza de bom grado as mortes, os terremotos, os desastres automobilísticos, a poluição dos rios, pois tudo isso faz a economia crescer, faz o PIB disparar e ajuda a eleger (dá votos) muita gente.
Ao nos chamar à reação contra todos esses desmandos, Buarque deixa expresso nas páginas de “Reaja” o sentimento de que a vida só tem sentido quando passamos por ela com o intuito de transformar algo, de não nos acomodarmos à letargia, mas, antes, de colocarmos mãos na massa para moldarmos um novo mundo, um mundo diferente, mais fraterno, pautado numa nova maneira de construir às relações que enlaçam o nosso dia a dia numa perspectiva de melhoria da qualidade de vida.
Esse “reaja” propagado por Buarque vem nos alertar para o “não se acostume”, evidenciando que uma eficaz saída para superarmos os mais diferentes desequilíbrios passa pela mobiliz(ação), pela re(ação) e pela agiliz(ação).
“Não se acostume com o conforto pessoal que vem da concentração de renda e com o custo de destruição ambiental. Lembre que hoje não nos acostumaríamos com os privilégios da nobreza ou com a exploração de escravos. E naquele tempo todos estavam acostumados. Não se acostume agora com o luxo dos ricos ao lado da miséria dos pobres. Escravocratas são todos os que vivem indiferentes à pobreza que os rodeia”. (p.36)
Esse “Reaja” se enquadra naquela linha de análise defendida por Leonardo Boff: “Ideias boas podemos até tê-las aos montes, mas o que de fato move o mundo são as nossas ações”.
Dito ainda de outra forma por L. Boff, esse “Reaja” de Cristovam Buarque pode ser assim resumido: “O que convence as pessoas não são as prédicas, mas as práticas. As ideias podem iluminar. Mas são os exemplos que atraem e nos põem em marcha”.
Para sorte de todos nós, a história está repleta de exemplos que corroboram com o texto apresentado por Cristovam Buarque. De nossa parte, que não deixemos “escapar” mais essa oportunidade.
Fonte: Envolverde (out/13)
"Ou mudamos ou morremos", alerta Leonardo Boff
Segundo Boff, a Terra está doente. "E como somos, enquanto humanos também Terra (homem vem de humus=terra fértil), nos sentimos todos, de certa forma, doentes. A percepção que temos é de que não podemos continuar nesse caminho, pois nos levará a um abismo. Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construímos o princípio de auto-destruição. Não é fantasia holywoodiana", observou.
De acordo com ele, a humanidade tem condições de destruir várias vezes a biosfera e impossibilitar o projeto planetário humano. "Desta vez não haverá uma arca de Noé que salve a alguns e deixa perecer os demais. Os destinos da Terra e da humanidade coincidem: ou nos salvamos juntos ou sucumbimos juntos", ressaltou Boff.
"Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador de nossas sociedades hoje mundializadas, principal responsável por esse curso perigoso. É o tipo de economia que inventamos. A economia é fundamental, pois, ela é responsável pela produção e reprodução de nossa vida. O tipo de economia vigente se monta sobre a troca competitiva. Tudo na sociedade e na economia se concentra na troca. A troca aqui é qualificada, é competitiva. Só o mais forte triunfa. Os outros ou se agregam como sócios subalternos ou desaparecem. O resultado desta lógica da competição de todos com todos é duplo: de um lado uma acumulação fantástica de benefícios em poucos grupos e de outro, uma exclusão fantástica da maioria das pessoas, dos grupos e das nações."
Para Boff, atualmente, o grande crime da humanidade é o da exclusão social. "Por todas as partes reina fome crônica, aumento das doenças antes erradicadas, depredação dos recursos limitados da natureza e um ambiente geral de violência, de opressão e de guerra."
Individualismo x Cooperação
Um dos pontos mencionados pelo teólogo no artigo é que a grande maioria dos países e das pessoas não cabem mais sob seu teto. "Agora esse tipo de economia da troca competitiva se mostra altamente destrutiva, onde quer que ela penetre e se imponha. Ela nos pode levar ao destino dos dinossauros", comparou Boff.
Ao defender a ideia de que "ou mudamos, ou morremos", Boff sugere como alternativa uma nova racionalidade, por meio do princípio da cooperação (ele cita o livro de Maurício Abdalla sobre o tema). "Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior. Urge começar com as revoluções moleculares. Comecemos por nós mesmos, sendo seres cooperativos, solidários, com-passivos, simplesmente humanos. Com isso definimos a direção certa. Nela há esperança e vida para nós e para a Terra", conclui Boff.
Fonte: EcoD (out/13)
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