domingo, 8 de julho de 2012

Rio+20: Poucas decisões, mas há mudança de paradigma


Lembra-se da estória dos ratos que, dado a ameaça de um novo gato que despontou na região, decidiram que a solução definitiva do problema seria colocar uma sineta no pescoço do gato? Devem lembrar, também, do desfecho: o plano infalível não deu certo, pois ninguém se ofereceu, entre os ratos, para colocar a sineta no gato.

Reflitam um pouco em relação ao espaço histórico entre a Conferência de Estocolmo e a Rio+20. Qualquer semelhança deve ser motivo de uma saudável e profunda reflexão.

Na realidade, ao longo do caminho, um conflito explícito ou não de inevitáveis interesses econômicos, entre os países desenvolvidos – que não querem parar de crescer – e os emergentes (que precisam crescer).

Em relação a Rio+20, entre novas frases recheadas de velhos temas, fica evidente uma mudança de paradigma: a necessidade da sociedade – não apenas os iniciados no assunto – ser inserida na discussão e decisões relativas ao cenário ambiental, local e global.

O conceito do Desenvolvimento Sustentado – foco simultâneo da análise das variáveis econômicas, sociais e ambientais - agora passa a incorporar (não apenas na concepção, mas na prática) a necessidade de levar em conta o que a sociedade (quarto ponto de enfoque) “percebe”, “deseja” e “está disposta a pagar” quando se procura aplicar o princípio do Desenvolvimento Sustentado.

Da velha geometria sabemos que por três pontos não alinhados – focos econômico, ambiental e social - passa sempre um, e somente um, plano. As coisas mudam quanto aparece um quarto ponto – sociedade - onde, por consequência, necessariamente, não há um plano único que atenda aos quatro pontos.

A procura da Sustentabilidade é a conciliação dos muitos planos, tendo como pano de fundo a percepção ambiental, social e econômica da sociedade.

Para alguns pode parecer que a mudança é de pouca importância; muito pelo contrário, se efetivamente adotada irá gerar condições mais favoráveis, decorrentes da pressão da sociedade consciente, frente ao segmento político, agente que comanda todo o processo.

Claro que não será uma mudança brusca, uma vez que a sociedade precisa reconhecer o seu papel neste processo e, sobretudo, procurar se preparar para ocupar seu espaço de participação nas decisões.

Será a sociedade que irá pagar a conta que terá de ser assumida na solução da problemática ambiental que vivenciamos. Isso, pois esta mesma sociedade ainda não se apercebeu que já está pagando a  conta (sem saber) da fase de procura de quem irá “colocar a sineta no gato”.

Concluindo: com a participação da sociedade será  possível afastar o gato e não apenas colocar a “sineta no pescoço do gato”.

Alguém tem dúvida disso?


Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.
Conselheiro do Conselho de Meio Ambiente da FINDES e do Conselho de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da FAES, bem como do CONSEMA e CERH e do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas (ES)

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