sábado, 1 de junho de 2013

Insistindo no assunto...


O cerne da crise ambiental sem precedentes que estamos vivendo está na problemática do excesso de consumo. Como já foi dito aqui no blog, segundo a edição de 2012 do Relatório Planeta Vivo da WWF (http://www.wwf.org.br/?uNewsID=31304), a demanda por recursos naturais já superou em 50% a capacidade de regeneração do planeta.
E há três semanas atrás, mais precisamente no dia 9 de maio, constatou-se que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera ultrapassou pela primeira vez (em alguns milhões de anos) a marca de 400 partes por milhão (ppm), fato que torna cada vez mais difícil o aumento de “somente” 2ºC da temperatura global até o fim deste século. Para se ter uma ideia, até agora o aumento da temperatura foi de 0,8ºC desde a Revolução Industrial e já estamos sentindo os efeitos das mudanças climáticas. Outro ponto a ser observado é que a concentração de CO2 na atmosfera era de 280 ppm, antes da Revolução Industrial.
Os processos de renovação da natureza estão sendo interferidos em razão do esgotamento e da pressão sobre os recursos naturais. A principal causa dessa pressão vem do consumo exagerado da sociedade moderna. Estamos comprometendo os processos ecológicos essenciais do planeta com consequências gravíssimas ao meio ambiente – solos desgastados, desmatamento, poluição do ar e da água, perda da biodiversidade e o aquecimento global. Além disso, o resultado desse excesso de exploração da natureza não é repartido igualmente entre a população mundial, gerando muita riqueza para poucos e muita pobreza para muitos.
Quanto mais consumimos, mais exploramos os recursos naturais, gerando mais desmatamento, poluição e degradação dos ecossistemas, acabando com a biodiversidade; quanto mais consumimos, mais lixo produzimos, gerando gás metano, intensificando o efeito estufa, principal causador do aquecimento global. As mudanças climáticas já estão afetando a produção de alimentos, alterando o regime de chuvas, provocando o aumento da probabilidade de extinção de diversos animais e intensificando os desastres ambientais. Todas estas transformações serão sentidas economicamente à nível mundial. Isto sem contar com os problemas sociais e as perdas ambientais que teremos. Com a constatação que acabamos de ter sobre os 400 ppm, se nada for feito, a Terra continuará a existir, no entanto, se tornará um planeta hostil para nós e a próxima espécie em extinção poderá será a nossa.
Por isso, leiam com atenção os dois artigos abaixo (o 1º de André Trigueiro e 2º de Lúcia Chayb e René Capriles) e reflitam: ninguém poderá ficar parado! É preciso acordar e sair da passividade! Cada um fazendo a sua parte, cobrando das empresas, pressionando os governos! É mais do que a hora de acordar!






A geração 400 ppm

Cada geração deixa para a seguinte um legado, uma herança, uma marca de sua passagem pela Terra. Quando na última quinta-feira (9), dois diferentes observatórios internacionais confirmaram a concentração recorde de 400 partes por milhão de C02 na atmosfera, materializamos um dos mais terríveis legados da nossa geração. Se for para ser assim, é bom que saibamos exatamente o que isso significa.
Apesar de todos os alertas da comunidade científica – especialmente do grupo de aproximadamente 2.500 cientistas reunidos no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU – chegamos ao patamar considerado de risco para que os fenômenos climáticos ocorram de forma minimamente previsível e não ameace a vida tal como a conhecemos. Ou seja, estaríamos maculando o software inteligente da natureza através do qual os ciclos climáticos se resolvem.
Sim, ao longo de sua história o planeta já sofreu várias glaciações e já conheceu períodos de concentrações ainda mais intensos de CO2 na atmosfera. O fato é que jamais tamanha acumulação de gases na atmosfera aconteceu tão rapidamente, determinando em um período tão curto de tempo variações tão importantes de temperatura. Em resumo: este novo ciclo de aquecimento global guarda uma forte relação com nossos hábitos, comportamentos, padrões de consumo e estilos de vida.
É como diz Nate Lewis, do Instituto de Tecnologia da Califórnia: “A composição da atmosfera terrestre tem permanecido relativamente imutável por 20 milhões de anos. Mas nos últimos 100 anos, começamos a transformar de forma drástica essa atmosfera, e a mudar o equilíbrio de calor entre a Terra e o Sol, de modo que essas mudanças poderão afetar enormemente o habitat de cada planta, animal ou ser humano neste planeta”.
A capacidade de o planeta “metabolizar” os gases-estufa através de fenômenos naturais de absorção pelos oceanos, solos e florestas é de aproximadamente 5 bilhões de toneladas por ano. Apenas no ano de 2008 (no auge da crise internacional e com as economias do mundo desaceleradas) emitiu-se 7,9 bilhões de toneladas com a queima de combustíveis fósseis e 1,5 bilhão de toneladas com os desmatamentos. Esses 4,4 bilhões de toneladas a mais vão se acumulando lenta e perigosamente na atmosfera, agravando a retenção de calor.
Os 10 anos mais quentes já registrados desde o início das medições, em 1880, ocorreram a partir de 1996. A concentração de 400 ppm de CO2 registrada dias atrás projeta um cenário de aquecimento – se nada for feito e continuarmos aumentando nesse ritmo as emissões de gases-estufa – que poderá chegar aos 6,4 ºC graus até o final do século.


As usinas termoelétricas a carvão estão entre as principais emissoras de carbono da atmosfera.

Professor de Política Ambiental em Harvard e ex-presidente da Associação Americana para o Progresso da Ciência, John Holdren explica de forma bastante simples os impactos da elevação da temperatura do planeta: “A temperatura normal de seu corpo é cerca de 37 ºC. Quando sobe um pouco, até 39 ºC, isso já é uma coisa grave, e mostra que há alguma coisa errada com você”.
O degelo das calotas polares (que vem acontecendo numa velocidade superior à prevista pelos estudiosos) e a expansão volumétrica dos oceanos já determinaram a elevação do nível do mar entre 10 cm e 20 cm no século passado. Parece pouco, mas não é. Em um planeta mais quente esses processos serão intensificados e deverão modificar a geografia costeira dos continentes com impactos diretos sobre aproximadamente 600 milhões de pessoas que vivem em áreas mais vulneráveis.
Haverá também mudanças importantes nos ciclos de degelo em cordilheiras nevadas como os Andes e os Himalaias. Isso significa a interrupção do abastecimento regular de água em períodos de estiagem em países como China, índia e Peru, com graves impactos na produção de alimentos. Certas culturas agrícolas mais sensíveis já estão sendo realocadas pois não se adaptam facilmente à mudança do clima. Isso tem provocados sucessivas quebras de safra e riscos reais para a segurança alimentar em várias partes do mundo.
A acidificação dos oceanos – causada pelo acúmulo de CO2 – e a elevação da temperatura da água já estão determinando perdas importantes nos ecossistemas marinhos. A principal delas é a morte dos corais, base da cadeia alimentar de inúmeras espécies. Sem redes de corais resilientes e saudáveis, os impactos econômicos e sociais sobre quem pesca, quem processa o pescado e quem se alimenta de peixes e frutos do mar é incalculável.
São muitos os estudos revelando os impactos das mudanças climáticas sobre espécies animais e vegetais. Nos diferentes reinos da natureza, nem todos os seres vivos se adaptam a mudanças de temperatura.  Considerando o nível de interdependência entre as espécies, cada perda significa um novo risco sistêmico, enfraquecendo a “teia da vida”.
A mudança do ciclo da chuva é particularmente dramática em países como o Brasil, que depende de “São Pedro” para manter uma agricultura forte e pujante e uma matriz energética fortemente baseada em hidroeletricidade. Para sustentar o nível dos rios e das represas em padrões adequados, é preciso chover no lugar certo, e de preferência, nos períodos certos.
O agravamento dos chamados eventos extremos – aumento do poder de destruição de furacões, ciclones, tornados, tufões, secas, inundações etc – tornou obrigatória a definição de novos protocolos de segurança, alertas meteorológicos, macrodrenagem urbana, contenção de encostas, remoção das áreas de risco e etc.
São muitas as mudanças necessárias e urgentes na direção da mitigação (redução das emissões de gases-estufa) e adaptação (ações que reduzam os impactos inevitáveis causados pelas mudanças climáticas). O incrível – ou melhor, o absurdo – é que a ampla maioria dos países endossa os alertas da comunidade científica, financia as pesquisas de ponta relacionadas às mudanças climáticas, assina acordos internacionais importantes como o do Clima (1992) e o Protocolo de Kyoto (1997), envia representantes para as Conferências das Partes organizadas pela ONU para debater o assunto, mas, apesar de tudo isso, não consegue praticar o que fala.
É enorme a distância que separa as “boas intenções” das medidas concretas e efetivas que reduzam os estragos das mudanças climáticas. São muitos os chefes de estado que posam com o cenho franzido na foto, declaram-se publicamente preocupados e comprometidos, mas que nada ou pouco fazem. A atual geração de líderes políticos entra para a história como os avalistas do indigesto legado de 400ppm de CO2 na atmosfera.
Esse descolamento entre o discurso engajado e as políticas públicas se materializou fortemente no ano passado durante a Rio+20 (o maior encontro internacional da História em número de países), quando a proposta de se reduzir ou eliminar os subsídios da ordem de 1 trilhão de dólares destinados anualmente à exploração de petróleo foi solenemente ignorada na Cúpula. O Brasil, por exemplo, que realiza esforços e manobras contábeis sem precedentes para financiar a exploração do petróleo na camada pré-sal, foi contra.
Trata-se do mesmo governo que ignorou o prazo estipulado pela Política Nacional de Mudança do Clima (abril do ano passado) para que fossem anunciadas as metas para a redução das emissões de gases estufa em setores específicos da nossa economia.
Fundador do World Watch Institute, atual presidente do Earth Policy Institute, o pesquisador Lester Brown, em um dos capítulos do livro “Plano B 4.0”, resumiu da seguinte maneira o tamanho do desafio que os atuais chefes de estado não parecem dispostos a enfrentar com a devida celeridade:
“Dada a necessidade de simultaneamente estabilizar o clima e a população, erradicar a pobreza e restaurar os sistemas naturais da Terra, a civilização enfrenta, neste início de século 21, desafios sem precedentes. Responder bem a pelo menos um deles já seria algo importante. Mas o grave quadro exige responder efetivamente a cada um deles ao mesmo tempo, tendo em vista a interdependência entre os problemas”.
Tal como hoje se dá na Alemanha, quando as novas gerações estudam o nazismo nas escolas e depois, em casa, os netos perguntam para os avôs: “O que o (a) senhor (a) fez para impedir isso?”, é bastante provável que em um futuro próximo também os nossos netos nos perguntem: “Quando se confirmou o risco do pior cenário climático, o que o (a) senhor (a) fez para impedir isso?”
Qual será a sua resposta?

Publicado no site Mundo Sustentável, por André Trigueiro




O dia que a Terra atingiu os 400 ppm

O dia 9 de Maio de 2013 passará à história da vida na Terra como o momento que ultrapassamos o sinal vermelho das emissões de Gases de Efeito Estufa. Nesse dia, duas importantes instituições especializadas em pesquisas atmosféricas e oceânicas, o Observatório Mauna Loa, da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) no Havaí, e a Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia, registraram que a concentração de CO2 na atmosfera tinha ultrapassado as 400 partes por milhão (ppm). 

O Observatório de Mauna Loa, que registra desde 1958 o CO2 acumulado diariamente na atmosfera, emitiu um alerta semelhante ao de um tsunami climático. A gravidade do fato se evidencia ao constatar que essa taxa acontece pela primeira vez em 4,5 milhões de anos. Ao longo de toda a história da humanidade e até cerca de 200 anos atrás, nossa atmosfera conteve ao redor de 275 ppm de CO2. Partes por milhão é a forma de medir a concentração atmosférica de diferentes gases e, especificamente, representa a proporção de moléculas de dióxido de carbono para cada milhão de moléculas da atmosfera. A quantidade necessária para garantir a vida na Terra é de 275 ppm de CO2. Esse valor mantêm o calor na atmosfera, caso contrário, seria demasiado frio para abrigar principalmente a vida humana. 

Os sinais do perigo se evidenciam em todas as partes: as geleiras estão derretendo rapidamente deixando milhares de pessoas sem água; as calotas polares estão desaparecendo; as secas são cada vez mais comuns. O nível médio dos mares começou a subir e muitas cidades, ilhas e terras agrícolas ficarão submersas. Os oceanos estão mais ácidos devido ao CO2 que absorvem e assim matam corais, moluscos e manguezais, que são essenciais para a vida na Terra. 

O cientista da NASA James Hansen, o primeiro a advertir sobre esta realidade (em 1988), ao tomar conhecimento da atual situação, afirmou: “se a humanidade quer preservar um Planeta semelhante àquele no qual se desenvolveu a civilização e onde a vida está adaptada, as evidências paleontológicas das alterações climáticas em curso indicam que teremos que ficar no limite de segurança das 350 ppm”. Hansen, numa carta ao seu neto escreveu: “Iremos nos levantar e dar um verdadeiro soco nos políticos do nosso Planeta, para forçá-los a enfrentar a realidade? Para isso precisamos ser muitos e nos manifestar nas ruas. Ou será que deixaremos que continuem enganando a si próprios e a nós?” 

O Presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, também alertou que as 400 ppm são um sinal vermelho para os governantes. Por sua vez, Hilton Silveira Pinto, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas, da Unicamp, em declaração à DW Brasil, advertiu: “Quanto mais CO2, mais calor. Pode ser que, em 30 anos, estes números cheguem a 500 ppm, fazendo com que plantas tenham dificuldade em se desenvolver. Caso alcancem as 700 ppm, as plantas não se desenvolverão mais”. 
Isto significa que a vida no Planeta terá chegado ao fim da linha. Quanto mais tempo permanecermos na zona de perigo, acima de 350 ppm, sofreremos mais impactos climáticos extremos. 

Depois do dia 9 desde mês, a Terra já não é a mesma, estamos chegando ao ponto no qual não haverá possibilidade retorno.


Gaia viverá! 

Publicado na Revista Eco 21, por 

Lúcia Chayb e René Capriles

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