segunda-feira, 24 de junho de 2013

Minha modesta opinião


Participei da passeata do dia 20 de junho (quinta-feira), da Candelária à Prefeitura do Rio. Estava emocionada, pois há muito tempo (desde o movimento “Diretas Já”) não participava de algo tão grandioso. Tanta gente, tantos jovens, incluindo meu filho e seus amigos estavam comigo, participando com cartazes, rostos pintados e muitas vozes entoando palavras de ordem... Ao som do Hino Nacional, me arrepiei e tive que conter minha emoção... Foi lindo!

Por entre o protesto pacífico, surgiram rostos cobertos, apressados. Não tardei a ouvir um som abafado e fiquei apreensiva. Logo mais, vi surgirem diversas pessoas vindo em nossa direção; tivemos que correr, pular a grade da Avenida Presidente Vargas e nos agachar. Foi a primeira confusão que presenciamos.

Já na Prefeitura, alguns homens gritavam nos dizendo que tínhamos que marchar até o Maracanã para destruir tudo porque aquilo ali tinha sido uma roubalheira. Quem estava perto, incluindo nós, não deu atenção aos sujeitos encapuzados. Sem angariar adeptos, partiram para frente, onde havia um maior número de pessoas. De repente outro barulho abafado e mais correria. Começamos a ouvir o som de vidros quebrados e gente gritando. Resolvemos ir embora rapidamente e subimos o viaduto. Outro estrondo, dessa vez mais alto e gente correndo. Nos refugiamos na lateral da pista, quando nossos olhos começaram a lacrimejar e sentimos o nariz e a garganta arder... Corremos mais até sair do tumulto e conseguir ir embora.

Andamos bem, até alcançarmos a estação de metrô mais segura e longe da confusão. Cheguei em casa feliz, com a sensação de dever cumprido, emocionada em ver inúmeras pessoas na rua, dispostas a lutar por um Brasil melhor! Meu filho acessou o Facebook e viu que alguns amigos estavam presos no IFCS e que até no Hospital Sousa Aguiar havia dado confusão... Fui dormir apreensiva porque sabia que muita gente ia se machucar, que poderia ter sido qualquer um de nós e que estavam degradando nossa cidade...

No dia seguinte, os jornais confirmaram minha preocupação. Aquela quinta-feira tinha sido o dia mais violento, desde que as manifestações haviam começado. Pessoas feridas, patrimônios pichados, vidros quebrados, ônibus e carros incendiados, agências bancárias destroçadas, lojas saqueadas, enfim, muito prejuízo material e muitos manifestantes machucados...

Passei estes dias pensando, lendo e assistindo aos jornais e nada escrevi porque precisava tentar entender o que estava acontecendo. Os protestos eclodiram de forma tão rápida que nem os especialistas (sociólogos, antropólogos, historiadores) conseguiram descrever e analisar a situação. Li um artigo da Cora Rónai em que ela cita uma frase dita por Carlito Azevedo, diante da perplexidade do momento: “quem não estiver confuso, não está bem informado”. E era assim que estava me sentindo no sábado. Era como se todos os problemas estivessem contidos como o calor de um vulcão. E a gota d’água que fez esse vulcão explodir, foi o aumento do preço das passagens.

No domingo, ao abrir minha página no Face, havia uma série de convites para a participação de protestos marcados em vários lugares do Rio. O MPL (Movimento pelo Passe Livre) havia se retirado e fiquei pensando que agora, cada cidadão estava levantando a sua bandeira e marcando um protesto. E acabei resolvendo não ir a nenhum até que tudo ficasse mais claro pra mim.

Sempre escrevo aqui que é preciso agir e estou muito feliz que a população acordou e que está agindo! Só que acho que é preciso união e organização. Acredito que é preciso pegar as pautas mais sérias como meio ambiente, saúde, educação, transporte urbano, saneamento básico, reforma política e penal, nos organizar e sair à luta. Mais é preciso dar prioridade às causas mais urgentes, pois nada se resolve do dia para a noite, sem muita discussão. Após estas grandes conquistas, podemos partir para as menores. Não adianta a promoção de diversas “mini-passeatas” com milhares de causas diferentes, que não vai resolver, só irá dispersar.

Acho também que a passeata pode ser apartidária, mas não antipartidária. Concordo que a maioria dos partidos políticos está desacreditada e que o movimento segue em prol de uma bandeira única – a do nosso país. Porém, precisamos dos partidos políticos para nos representar, pois eles são a ponte entre nós e os políticos. Além disso, estamos numa democracia, onde todos tem o direito de se manifestar pacificamente.

Em relação aos vândalos que saem quebrando tudo, fico a perguntar até que ponto o sistema em que vivemos, onde ainda há muita pobreza, desigualdade, falta de educação e estruturas mínimas de sobrevivência não “fabricam” estes seres que promovem estas arruaças. No momento em que estava lá, vendo a destruição, fiquei revoltada e com muita raiva dessas pessoas. Mas depois, passei a refletir neste sentido... nada justifica, eu sei, mas é um ciclo vicioso: pobreza, desigualdade, falta de acesso à saúde, saneamento e educação geram insatisfação, revolta e falta de perspectiva. A maioria (graças a Deus!) se expressa pacificamente, mas há aqueles que não conhecem outro modo de se manifestar a não ser com violência, pois já dizia o grande Mestre Gentileza – violência gera violência.

Torço e rezo muito para que a luta continue bela como está sendo, em seu contorno maior. E certamente continuarei na luta também. Contudo, é preciso que tenhamos uma pauta organizada e que nos esforcemos primeiro pelas causas que há tempos só ouvimos promessas, sem atos concretos. O velho rojão “a união faz a força” faz todo o sentido neste momento.

Não esqueçamos também que a maior parte dos políticos que estão no poder, fomos nós que escolhemos, democraticamente. Então, está mais do que na hora de a população votar consciente e procurar conhecer melhor o seu candidato antes de ir às urnas, porque elas são também um poderoso instrumento de transformação!

Como conclusão de um processo que apenas se iniciou, este, sem dúvida, já é um momento histórico! As questões da política e dos nossos direitos, a indignação com a roubalheira desenfreada, com os altos impostos, e com tantas outras mazelas que fazem parte do nosso convívio cotidiano, estão agora na ponta da língua dos brasileiros e acima de tudo em nossas mentes e corações. Sigamos em frente!

Jackie Gaia




Separei alguns artigos interessantes sobre a ocasião, incluindo alguns que me deixaram com lágrimas nos olhos. Vejam a seguir:

• Cheira como inconformismo (O Globo Cultura, Tony Bellotto, jun/13)
• Páginas da revolução (Cora Rónai, InternETC, jun/13)
• Nas ruas, de novo (André Trigueiro, Mundo Sustentável, jun/13)
• Quando retroceder é avançar (André Trigueiro, Mundo Sustentável, jun/13)
• As multidões nas ruas: como interpretar? (LeonardoBOFF.com, jun/13) 
• Protestos – de onde vêm e para onde irão (Washington Novaes, Envolverde, jun/13)
• A escola frente às questões do dia-a-dia (Envolverde, jun/13)



Muda que quando a gente muda o mundo muda com a gente

A gente muda o mundo na mudança da mente

E quando a mente muda a gente anda pra frente

E quando a gente manda ninguém manda na gente!

Na mudança de atitude não há mal que não se mude 
nem doença sem cura

Na mudança de postura a gente fica mais seguro

Na mudança do presente a gente molda o futuro!

Gabriel, O Pensador



SEJA A MUDANÇA QUE VOCÊ QUER VER NO MUNDO
Mahatma Gandhi


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